quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Fundação Casa - Sarau da Fundação Casa, Unidade Paulista.

Jovens da UI Paulista mostram talento e surpreendem poetas

“Convive com teus poemas, antes de escrevê-los”. O verso do poema de Carlos Drummond de Andrade foi materializado pelos adolescentes da Unidade de Internação Paulista. Os jovens levaram ao pé da letra a sugestão do poeta e colocaram no papel ideias e experiências, e trouxeram à tona a suas concepções de mundo. O resultado pôde ser visto em Sarau, realizado na unidade nesta sexta-feira (21 de agosto).



Com versos sensíveis, porém fortes, os adolescentes penetraram “surdamente no reino das palavras” e conseguiram tirá-las do estado de dicionário. Eles deram sentido a cada vírgula e ponto e mostraram aos poetas Marcelino Freire, Marcelo Nocelli, Fábio Lisboa, Edilene Santos, Lidiane Oliveira e Rui Mascarenhas as referências que os levaram a escrever.


Os poetas estiveram na unidade para ler seus contos, poesias e contar histórias, mas, além disso, esperavam poder trocar experiências ao ouvir o que os jovens escreveram. O que eles não esperavam eram ver exemplos de superação e muito talento.
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O sarau foi resultado de um trabalho que começou durante as férias de inverno dos adolescentes. Naquele mês, os jovens foram inseridos no projeto PraLer, de estímulo à leitura, da Organização Poeisis Social de Cultura, da Secretaria da Cultura do Estado. Por meio do projeto, a biblioteca da unidade foi organizada e uma oficina de escrita, realizada. “O sarau é resultado dessas atividades”, explica o coordenador do PraLer, Rui Mascarenhas.



No início, ainda acanhados, os jovens apenas ouviram a letra forte da música do grupo Teatro Mágico, “Senhoras e Senhores”, falada por Edilene Santos. Em seguida, começaram a se soltar um pouco, quando Fabio Lisboa contou a eles a história de um homem que ao virar juiz não sabia a quem dar razão, pois, para ele, todos a tinham.


Lidiane Oliveira encantou ao recitar o poema, de sua autoria, “Estrela”. Mascarenhas, com voz forte, interpretou outro verso, que fez os jovens se soltarem de vez. Mas foi quando Marcelo Nocelli leu um conto seu, em que fala da primeira vez que pisou na paulicéia desvairada, é que os jovens se sentiram seguros para mostrar o que tinham no papel.

Marcelino Freire, poeta premiado - ganhador do prêmio Jabuti de Literatura em 2006 por “Contos Negreiros” e indicado para o mesmo prêmio, deste ano, por “Rasif” – leria um conto seu, mas se surpreendeu com o acervo da biblioteca da unidade, onde achou um livro de Patativa do Assaré, e leu um dos poemas do poeta cearense.
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A hora e a vez deles

Depois da rodada dos poetas, foi a vez dos adolescentes lerem o que escreveram. A expectativa e ansiedade estavam presentes. Demorou menos de um minuto para o primeiro jovem se levantar, apresentar-se aos demais, e bradar o que tinha escrito. As palavras, um pouco acanhadas, faziam referências a Martin Luther King, Ernesto Che Guevara, Gandhi, Nelson Mandela, Bob Marley e Zumbi, o que deixou os poetas impressionados. “É um poeta pronto”, afirmou Freire.
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No entanto, nada os surpreendeu mais que a fala de um dos jovens. Ele não escreve poemas – “não levo jeito pra isso”, disse -, mas leu. A surpresa neste fato é que ele, como muitos adolescentes que entram na Fundação CASA, não sabia escrever, quanto mais ler. Foi na unidade, com auxílio dos educadores, que o jovem descobriu as palavras.
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Incentivado pelos colegas, o adolescente não leu apenas um poema, mas três. E a cada palavra, pronunciadas ainda com certo esforço, ele sorria, como quem sabe a importância de cada sílaba. A fala ainda truncada rendeu aplausos de todos e lágrimas dos educadores. “Que exemplo de persistência”, maravilhou-se Marcelino Freire, que doou livros para o acervo da unidade.
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Fábio Lisboa, Marcelino Freire, Lidiane Ramos,
Rui Mascarenhas, Edilene dos Santos e Marcelo Nocelli
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.Para Mascarenhas, o resultado do encontro superou as expectativas. Ele afirma que a literatura e a poesia têm o poder sim de transformar e deixou um recado àqueles que ainda se sentem retraídos para escrever ou fazer qualquer coisa que seja. “Nada está lá fora, tudo está dentro de nós. A gente não encontra paz em lugar algum, quando não encontramos paz em nós mesmos”. Se a ideia era deixar uma semente, pode-se dizer que a poesia já fez crescer uma muda.
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Por Assessoria de Imprensa, Fundação Casa, em 21/08/09 19:21

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